domingo, 14 de dezembro de 2008

Uma nova travessia do Tejo - Excelente! Mas só isso não chega! E o resto…?



Tenho por hábito em relação aos textos que escrevo, deixar sempre algum contributo para uma reflexão positiva sobre o Barreiro, e raramente recorro a exemplos ou informações pessoais, a não ser aquelas que têm a ver com a minha visão de alguns factos, mas hoje vou quebrar essa regra e partilhar convosco um acontecimento pessoal, porque me ajuda a chamar a atenção para algo muito importante, que é a qualidade de vida numa cidade – o Barreiro – que se espera estar no caminho da sustentabilidade. E começando exactamente por aí, devo dizer que o conceito de sustentabilidade encerra três dimensões distintas – a ambiental, a social e a económica. Só que não tendo aqui lugar para a discussão destas três vertentes, e sem prejuízo de o vir a fazer mais tarde, vou centrar-me num detalhe da dimensão social – a vertente da saúde.

É que se dá o feliz facto de eu ser pai de um garoto de 4 anos que, tendo sido genericamente uma criança saudável até hoje, atravessou um episódio problemático há cerca de um ano, o que, não tendo deixado – felizmente - marcas permanentes, continua ainda hoje a trazer-me num estado de preocupação algo acima do que se pode considerar normal. Mas de resto, ainda que em diferentes níveis, a generalidade dos pais atravessa este estado de preocupação e a maior parte das crianças vai felizmente crescendo com a saúde e a alegria necessárias para que venham a ser adultos saudáveis. Neste percurso, muitas são as vezes em que o caminho para esse equilíbrio se faz de altos e baixos e, representando as crianças, um dos grupos mais frágeis da nossa população, compreende-se que os momentos problemáticos constituam uma razão especial de preocupação.

No contexto febril em que o meu garoto se encontrava no passado Domingo, e avizinhando-se uma noite complicada, decidi levá-lo ao serviço de Urgência Pediátrica do Hospital de N.ª Sr.ª do Rosário do Barreiro - local onde recorro sempre que se mostra necessário – para que pudesse ser observado. O panorama à chegada não me parecia nada convidativo – a sala de espera estava cheia, de entre pais, avós e outros acompanhantes e crianças, estando algumas delas já espalhadas pelo corredor de acesso e respectiva sala de entrada. Depois de uma triagem por uma enfermeira, restou-me aguardar em pé na sala de entrada, com o garoto ao colo, a “ferver” a “bicharada” que o atacara. Após uma espera exasperante de mais de duas horas, e respondendo à chamada, foi possível submeter o garoto à observação do clínico de serviço, que “grosso modo” não concluiu nada que não soubéssemos já. O rapaz tinha febre mas não tinha quaisquer outras manifestações, pelo que aconselhou que recolhêssemos a casa e, caso ele piorasse, voltássemos então a uma nova consulta na urgência pediátrica. À saída, e após todo aquele tempo de espera, desejei com muita força que tal não fosse necessário. Mas infelizmente não fui “atendido” nesse meu pedido, e no dia seguinte, pouco após as 13h – mais precisamente com o registo de entrada das 13:28h - voltámos ao sítio de onde tínhamos saído cerca de 12 horas antes, porque se verificou o que havia sido vaticinado pelo clínico – ele piorou. Podem não acreditar, porque até eu próprio tive dificuldade à chegada, mas o panorama do dia seguinte era ainda pior que o anterior. A descrição não consegue dar uma ideia do caos instalado naquele serviço. Esperámos cerca de uma hora para que fosse possível fazer a triagem ao garoto, e de forma até ridícula pelo inaceitável da situação, aquele “episódio de urgência” foi concluído às 17:33h, mais de 4 horas depois de ter dado entrada. Naquelas mais de quatro horas de espera, comuns a cerca de 50 crianças e respectivos acompanhantes, inúmeras foram as reclamações verbais aos funcionários auxiliares e enfermeiras que se conseguiam ver ocasionalmente para cá da porta, pelo despropositado e inaceitável tempo de espera – que de forma quase automática, a auxiliar anunciava superior a 4 horas. Desde uma mãe que várias vezes perguntou se poderia ausentar-se para dar comida à criança, até outra mãe que esperou cerca de 3 horas para que em 2 minutos o clínico pudesse transmitir-lhe que as análises da sua criança não revelavam nenhuma alteração e que poderia ir-se embora, inúmeros foram os impropérios a que quem passou a tarde naquele serviço, pôde assistir. Mas o mais inacreditável desta história foi que, inexplicavelmente, em todo aquele tempo, apenas uma mãe perguntou como poderia reclamar daquele serviço, que só desavergonhadamente se pode chamar de urgência – ainda por cima pediátrica.

É verdade que todos sabemos que falta fazer muita coisa para que possamos dizer que temos uma cidade sustentável. Em qualquer uma das três dimensões que referi. Mas se me pedissem para estabelecer prioridades, sem qualquer dúvida que a saúde apareceria num dos primeiros lugares. E nesta escolha, estou certo que não estou sozinho.

Quando vejo noticiado que a Assembleia Municipal do Barreiro aprovou por unanimidade o parecer favorável à nova travessia do Tejo no Corredor Chelas Barreiro, tenho vontade de propor que aprove também uma auditoria externa e séria aos serviços de urgência do Hospital de N.ª Sr.ª do Rosário do Barreiro. Porque confesso-vos que estou muito satisfeito com a decisão da ponte, mas quero viver numa cidade onde as condições de qualidade de vida são valorizadas como um todo, e não se regem por padrões tão baixos como estes, que permitem que situações como as que se passaram este fim-de-semana comigo e com muitas outras pessoas, sejam consideradas normais. Porque não são!

Nuno Banza

1 comentário:

Cátia Meco disse...

Se a ponte chegar depressa já podemos levar os nossos filhos de forma mais rápida para um outro serviço na margem Norte...Descobertas, Luz...e claro pagar(dá tempo para ir, voltar e ser observado aqui).