segunda-feira, 26 de julho de 2010

O fogo criminoso não evitará a Classificação da Mata da Machada e do Sapal do Rio Coina!

Nos últimos dois dias a Mata Nacional da Machada foi alvo de duas tentativas de incêndio, de forma criminosa, o que fez activar os meios para o combate, tendo sido possível debelar o incêndio sem que dele tivessem decorrido consequências de maior gravidade para aquele espaço.

Tratou-se de duas ocorrências que só se podem justificar com dois actos criminosos, que de forma vil e premeditada intentaram contra um espaço de superior importância, não apenas do ponto de vista do seu coberto florestal, mas e sobretudo como espaço de importância natural inquestionável para o concelho do Barreiro e mesmo para a região, facto que faz com que seja justificada a intenção de o classificar como área protegida. O seu valor vai muito para além das árvores ou dos matos que o compõem e a sua relação íntima com o Sapal do Rio Coina enchem o Barreiro de orgulho em ter no seu pequeno território estes dois espaços.

O processo de classificação do Sapal é dinâmico e começa a ganhar vida própria. Decorre actualmente o período informal de consulta pública, que terminará a 12 de Setembro, sendo de referir as muitas opiniões e sugestões que foi possível já recolher de milhares de cidadãos que se envolveram com estes dois espaços através da riquíssima agenda de actividades que a Mata da Machada oferece até ao final do período de consulta pública.

Todas as iniciativas que temos organizado só contribuem para fortalecer a ligação dos cidadãos do Barreiro a estes dois espaços naturais e por isso, estamos convictos de que a Classificação destes dois locais se tornou incontornável. Se um fogo criminoso devastar alguma área, como o que aconteceu nestes dois dias anteriores, o trabalho será mais difícil, demorará mais tempo e provavelmente custará a todos mais.

Mas de uma coisa podem estar certos, nenhum criminoso pirómano conseguirá parar o processo de Classificação da Mata Nacional da Machada e do Sapal do Rio Coina como áreas protegidas locais. Porque o Barreiro se preocupa com os seus espaços naturais e trabalhará arduamente para que essa vontade seja uma realidade. Para este objectivo, todas as ajudas são importantes. Conto consigo para esta tarefa! Ajude a defender a Mata Nacional da Machada e o Sapal do Rio Coina!

Barreiro, 13 de Julho de 2010.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

É preciso começar a pensar nos problemas do país!


O dia 21 de Janeiro ficará na história como o início de um novo ciclo político em Portugal. Num país que está cada vez mais marcado pela indiferença relativamente à participação na resolução dos seus problemas, por parte dos cidadãos, o lançamento do Livro “Mudar”, de Pedro Passos Coelho, é o início de um esforço absolutamente necessário pelo futuro de Portugal.



É ponto assente que o nosso país se encontra numa situação muito difícil do ponto de vista económico e social, com taxas de desemprego historicamente altas, com uma perda de tecido produtivo absolutamente assustadora, ao mesmo tempo que a economia e a criação de riqueza não dão sinais de inverter o ciclo negativo em que estão mergulhadas. As consequências são de todos conhecidas, e as políticas públicas implementadas pelo Governo não se têm mostrado capazes de dar a volta a esta situação. O contributo dos apoios comunitários está mergulhado em procedimentos e burocracias inadmissíveis, que infelizmente explicam as baixas taxas de acesso aos fundos comunitários do Quadro de Referência Estratégico Nacional – QREN – a nossa última oportunidade de nos aproximarmos da média europeia.


Num contexto tão desfavorável como o que vivemos, onde o modelo de governação socialista se esgotou a si próprio, felizmente antes de esgotar o País, é inevitável encontrar um caminho alternativo para Portugal. Não é apenas uma opção, trata-se indiscutivelmente de uma necessidade. Esse caminho alternativo terá de conseguir motivar os cidadãos para a construção de um país mais justo, mais eficiente, mais produtivo, que apoie a iniciativa individual de quem está disposto a correr riscos e a investir para inverter a situação em que nos encontramos. Encontrar mecanismos que tornem mais fácil a criação de riqueza e com isso aumentar a capacidade do estado para que possa ter mais e melhor intervenção na qualidade de vida dos cidadãos, deve ser considerado um desígnio nacional.


Pedro Passos Coelho disse hoje que “Para sabermos no que estamos unidos, temos de saber o que pensamos.” Com a edição do livro “Mudar”, ele partilha connosco algumas das suas ideias sobre um conjunto de áreas de interesse na governação de Portugal num esforço claro de unir em torno de propostas concretas, todos aqueles que querem e desejam um futuro melhor para o seu país.


A clareza com que expõe as suas ideias, permitirá aos Social-Democratas, mas sobretudo aos cidadãos que de alguma forma se preocupam com o país onde vivem, perceber que existe uma alternativa credível e motivadora de um novo ciclo político. Um ciclo político marcado pelo respeito pelos portugueses e pela cultura do rigor, ao mesmo tempo que se estimula o crescimento económico e a criação de riqueza. Preocupações complexas como o desemprego, o endividamento externo ou a competitividade só encontrarão resposta numa política competente, liderada por um protagonista capaz de concretizar estes objectivos.


Por tudo o que sei sobre as suas ideias e convicções, que muito bem exprime no seu livro, Pedro Passos Coelho é, não só indiscutivelmente a minha escolha para líder do meu partido, o PSD, mas é sobretudo a minha escolha para liderar os destinos do meu país, Portugal!

Nuno Banza,


Militante e Vereador do PSD na Câmara Municipal do Barreiro

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Tenha cuidado com este Inverno. Vai ser muito frio…e caro!

Está um frio!!! É a expressão mais ouvida nos últimos dias, na boca de toda a gente. Dos mais velhos aos mais novos, dos mais encalorados aos mais friorentos, não há ninguém a quem não lhe tenha já chegado o frio. Por todo o lado, desdobram-se as recomendações para que os cuidados com o frio sejam muitos e constantes, com especial atenção às crianças e aos menos jovens. Várias peças de roupa, protecção para as mãos, para a cabeça e ouvidos, cremes hidratantes para a pele e lábios, calçado adequado enfim, um manancial de cuidados, todos eles necessários e bem vindos, numa época em que o clima severo traz muitas vezes também as típicas complicações de saúde.


Neste contexto de frio, seria de esperar que, associado às inúmeras chamadas de atenção e títulos de jornais sobre os cuidados a ter, víssemos incluída também uma outra questão muito importante, em especial numa época de crise financeira que afecta sobretudo as famílias, que se refere aos custos com o aquecimento das habitações mas também de espaços de trabalho e serviços. Poderia começar por dizer que a climatização dos edifícios se faz maioritariamente através do consumo de energia eléctrica e que a sua produção implica uma emissão significativa de gases com efeito de estufa para a atmosfera, o que sendo verdade, confesso que não esperava vir a tocar o íntimo dos leitores, já que não se espera que as pessoas passem frio para evitar a emissão de CO2 para a atmosfera. Antes, e mais relevante nesta fase, penso que é importante encarar o problema por uma outra perspectiva – a perspectiva do uso racional e da economia de energia – que terá como consequência directa um menor custo da energia para as famílias e para as empresas, ao mesmo tempo que representará uma menor emissão de CO2 para a atmosfera.


É muito comum, tendo sido notícia de abertura de alguns noticiários nos últimos dias, a ocorrência de acidentes domésticos decorrentes de sobrecargas eléctricas, algumas com perda de vidas humanas, devido à utilização intensiva de aparelhos de aquecimento de vários tipos. A corrida aos aquecedores eléctricos e a gás que se registou nos últimos dias, tem uma consequência directa e muito negativa no consumo de energia das famílias, com o consequente e indesejado aumento das facturas a pagar.


Muitas das habitações em especial no caso do Barreiro, foram construídas numa época em que não se integravam preocupações com as soluções construtivas para poupar energia. O resultado é a inexistência de paredes duplas ou isolamentos térmicos e aplicação de caixilharia sem corte térmico ou telhados sem isolamento, o que criou hoje uma maior necessidade por parte dos seus habitantes, no que toca à climatização destas habitações.


Para os que possam integrar soluções de fundo no que toca à intervenção nas suas habitações, recomenda-se vivamente uma auditoria energética à habitação, para que possa decidir de forma informada e eficiente, quais os investimentos mais correctos a fazer. Para aqueles que, sendo seguramente a maior parte, se vêem obrigados ao uso de sistemas de climatização como forma de se manterem quentes nas suas habitações, gostava de deixar alguns conselhos úteis que, se forem seguidos, vão reduzir seguramente a factura energética mantendo o nível de conforto:


- Sempre que considere necessário e só nesse caso, promova a ventilação da habitação logo pela manhã, e por um curto período de tempo. Assim, estará a renovar o ar interior, promovendo a ventilação, seguindo-se um período em que normalmente os ocupantes das habitações saem para os empregos/escola, tendo menos impacto no conforto;


- Sempre que possível, deixe os estores das janelas abertos e os cortinados recolhidos no período do dia. Assim permitirá a entrada dos raios solares e contribuirá para o aquecimento do ar interior da habitação;


- Na utilização de aquecedores eléctricos, evite os que têm a resistência à vista (lâmpada), pois estes reduzem significativamente a humidade do ar, sendo menos eficientes no aquecimento que, por exemplo, os termo-ventiladores;


- Evite climatizar demasiado apenas algumas divisões da habitação, e faça-o só naquelas que sabe que vai efectivamente utilizar. O sobreaquecimento pode gerar diferenças de temperatura entre divisões que podem ser significativas. Não se esqueça que estar sujeito a mudanças bruscas de temperatura pode trazer complicações de saúde indesejadas;


- Use alguma roupa quente quando se encontra em casa e proteja os pés com calçado adequado. Assim evita ter de aquecer demasiado a habitação, o que lhe sai muito mais barato e evita desperdiçar calor que se manterá quando já não precisa dele;


- Nunca deixe aparelhos de aquecimento ligados durante a noite, com excepção dos que são instalados para acumular calor em período nocturno, como o caso dos acumuladores cerâmicos. A noite é o período de menor vigilância e por isso maior risco. Lembre-se que um cobertor adicional evita a necessidade de aquecimento, com a poupança de energia e logo, um menor custo;


- Equacione a possibilidade de recorrer à utilização de tarifa bi-horária, fazendo para isso uma simulação do seu consumo através do site da EDP ou do seu fornecedor de energia eléctrica.


E como este é o primeiro artigo de 2009, desejo a todos um Excelente Ano, com baixos consumos de energia.


Nuno Banza

terça-feira, 30 de dezembro de 2008


Num ano que se avizinha cinzento e tristonho, em que o ambiente de crise reina, não resisto a relembrar um poema de Pessoa, que me inspira a encontrar forças para um novo ano.


O Monstrengo, Fernando Pessoa.


O Monstrengo que está no fim do mar,

Na noite de breu ergueu-se a voar

À roda da nau voou três vezes,

Voou três vezes a chiar,

E disse “Quem é que ousou entrar

Nas minhas cavernas que não desvendo,

Meus tectos negros do fim do mundo?”

E o homem do leme, disse tremendo,

“El-Rei D. João Segundo!”


“De quem são as velas onde me roço?

De quem as quilhas que vejo e ouço?”

Disse o Monstrengo, e rodou três vezes,

Três vezes rodou imundo e grosso,

“Quem vem poder o que só eu posso,

Que moro onde nunca ninguém me visse

E escorro os medos do mar sem fundo?”

E o homem do leme tremeu, e disse,

“El-Rei D. João Segundo!”


Três vezes do leme as mãos ergueu,

Três vezes ao leme as reprendeu,

E disse no fim de tremer três vezes,

“Aqui ao leme sou mais do que eu:

Sou um povo que quer o mar que é teu

E mais que o Monstrengo, que me a alma teme

E roda nas trevas do fim do mundo,

Manda a vontade, que me ata ao leme,

De El-Rei D. João Segundo!”


domingo, 14 de dezembro de 2008

Uma nova travessia do Tejo - Excelente! Mas só isso não chega! E o resto…?



Tenho por hábito em relação aos textos que escrevo, deixar sempre algum contributo para uma reflexão positiva sobre o Barreiro, e raramente recorro a exemplos ou informações pessoais, a não ser aquelas que têm a ver com a minha visão de alguns factos, mas hoje vou quebrar essa regra e partilhar convosco um acontecimento pessoal, porque me ajuda a chamar a atenção para algo muito importante, que é a qualidade de vida numa cidade – o Barreiro – que se espera estar no caminho da sustentabilidade. E começando exactamente por aí, devo dizer que o conceito de sustentabilidade encerra três dimensões distintas – a ambiental, a social e a económica. Só que não tendo aqui lugar para a discussão destas três vertentes, e sem prejuízo de o vir a fazer mais tarde, vou centrar-me num detalhe da dimensão social – a vertente da saúde.

É que se dá o feliz facto de eu ser pai de um garoto de 4 anos que, tendo sido genericamente uma criança saudável até hoje, atravessou um episódio problemático há cerca de um ano, o que, não tendo deixado – felizmente - marcas permanentes, continua ainda hoje a trazer-me num estado de preocupação algo acima do que se pode considerar normal. Mas de resto, ainda que em diferentes níveis, a generalidade dos pais atravessa este estado de preocupação e a maior parte das crianças vai felizmente crescendo com a saúde e a alegria necessárias para que venham a ser adultos saudáveis. Neste percurso, muitas são as vezes em que o caminho para esse equilíbrio se faz de altos e baixos e, representando as crianças, um dos grupos mais frágeis da nossa população, compreende-se que os momentos problemáticos constituam uma razão especial de preocupação.

No contexto febril em que o meu garoto se encontrava no passado Domingo, e avizinhando-se uma noite complicada, decidi levá-lo ao serviço de Urgência Pediátrica do Hospital de N.ª Sr.ª do Rosário do Barreiro - local onde recorro sempre que se mostra necessário – para que pudesse ser observado. O panorama à chegada não me parecia nada convidativo – a sala de espera estava cheia, de entre pais, avós e outros acompanhantes e crianças, estando algumas delas já espalhadas pelo corredor de acesso e respectiva sala de entrada. Depois de uma triagem por uma enfermeira, restou-me aguardar em pé na sala de entrada, com o garoto ao colo, a “ferver” a “bicharada” que o atacara. Após uma espera exasperante de mais de duas horas, e respondendo à chamada, foi possível submeter o garoto à observação do clínico de serviço, que “grosso modo” não concluiu nada que não soubéssemos já. O rapaz tinha febre mas não tinha quaisquer outras manifestações, pelo que aconselhou que recolhêssemos a casa e, caso ele piorasse, voltássemos então a uma nova consulta na urgência pediátrica. À saída, e após todo aquele tempo de espera, desejei com muita força que tal não fosse necessário. Mas infelizmente não fui “atendido” nesse meu pedido, e no dia seguinte, pouco após as 13h – mais precisamente com o registo de entrada das 13:28h - voltámos ao sítio de onde tínhamos saído cerca de 12 horas antes, porque se verificou o que havia sido vaticinado pelo clínico – ele piorou. Podem não acreditar, porque até eu próprio tive dificuldade à chegada, mas o panorama do dia seguinte era ainda pior que o anterior. A descrição não consegue dar uma ideia do caos instalado naquele serviço. Esperámos cerca de uma hora para que fosse possível fazer a triagem ao garoto, e de forma até ridícula pelo inaceitável da situação, aquele “episódio de urgência” foi concluído às 17:33h, mais de 4 horas depois de ter dado entrada. Naquelas mais de quatro horas de espera, comuns a cerca de 50 crianças e respectivos acompanhantes, inúmeras foram as reclamações verbais aos funcionários auxiliares e enfermeiras que se conseguiam ver ocasionalmente para cá da porta, pelo despropositado e inaceitável tempo de espera – que de forma quase automática, a auxiliar anunciava superior a 4 horas. Desde uma mãe que várias vezes perguntou se poderia ausentar-se para dar comida à criança, até outra mãe que esperou cerca de 3 horas para que em 2 minutos o clínico pudesse transmitir-lhe que as análises da sua criança não revelavam nenhuma alteração e que poderia ir-se embora, inúmeros foram os impropérios a que quem passou a tarde naquele serviço, pôde assistir. Mas o mais inacreditável desta história foi que, inexplicavelmente, em todo aquele tempo, apenas uma mãe perguntou como poderia reclamar daquele serviço, que só desavergonhadamente se pode chamar de urgência – ainda por cima pediátrica.

É verdade que todos sabemos que falta fazer muita coisa para que possamos dizer que temos uma cidade sustentável. Em qualquer uma das três dimensões que referi. Mas se me pedissem para estabelecer prioridades, sem qualquer dúvida que a saúde apareceria num dos primeiros lugares. E nesta escolha, estou certo que não estou sozinho.

Quando vejo noticiado que a Assembleia Municipal do Barreiro aprovou por unanimidade o parecer favorável à nova travessia do Tejo no Corredor Chelas Barreiro, tenho vontade de propor que aprove também uma auditoria externa e séria aos serviços de urgência do Hospital de N.ª Sr.ª do Rosário do Barreiro. Porque confesso-vos que estou muito satisfeito com a decisão da ponte, mas quero viver numa cidade onde as condições de qualidade de vida são valorizadas como um todo, e não se regem por padrões tão baixos como estes, que permitem que situações como as que se passaram este fim-de-semana comigo e com muitas outras pessoas, sejam consideradas normais. Porque não são!

Nuno Banza

terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Cidade – de fonte de problemas a fonte de soluções!



Desde que o Homem se tornou sedentário, que organizou a vida em sociedade com base na construção de núcleos habitacionais, de dimensão variável em função de um conjunto de factores como as características geográficas, climáticas entre outras. Com o passar dos tempos, alguns desses pequenos núcleos foram crescendo, outros foram desaparecendo, mas muitos deram origem a grandes metrópoles, algumas de importância histórica, das quais fazem parte cidades como Roma, Atenas e muitas outras espalhadas pelo mundo. Desde sempre que a gestão das cidades foi polémica. Se imaginarmos os problemas que se colocavam ao nível das necessidades básicas numa cidade, como o abastecimento de água, a drenagem dos esgotos e recolha de resíduos, ou outras necessidades também muito importantes como o fornecimento de alimentos, ou até a convivência permanente com os animais quer os usados como apoio aos trabalhos do campo e nas deslocações (cavalos, burros e bois) bem como os animais criados para servirem de alimento (galinhas, porcos, ovelhas, cabras, etc) é fácil imaginar uma série de dificuldades práticas, que muitas vezes se traduziram em problemas sérios de saúde pública, como a peste, a cólera, entre muitos outros. Porém, a concentração de pessoas sempre permitiu resolver problemas de escala e encontrar soluções para um conjunto de dificuldades, que seriam impossíveis de resolver de outra forma.

Em regimes mais ou menos democráticos, a gestão das urbes é uma matéria que esteve sempre envolvida em polémica. Nos dias de hoje também a cidade continua a estar permanentemente envolvida em quezílias bairristas, partidaristas, de vizinhança e muitas vezes até clubistas, que vão alimentando a sua vivência. As cidades foram desde sempre uma forma útil que o homem encontrou para ter segurança, ter condições de vida mais favoráveis, criar condições de desenvolvimento social para fazer face às suas crescentes necessidades, o que faz com que a cidade possa ser vista como um organismo vivo e dinâmico. Com mais ou menos problemas, cada cidade faz o seu caminho, em função dos estímulos que lhe são fornecidos e vai encontrando formas de se desenvolver. É certo que muitas vezes a leitura que se faz desse desenvolvimento é ao mesmo tempo muito negativa e muito positiva, e permite até alimentar teses de catastrofismo, ou de ressurreição, muito convenientes em função dos interlocutores. Porém, a experiência mostra que as cidades são acima de tudo inteligentes na forma como resolvem os seus problemas. Grandes conflitos de interesses entre os actores das cidades geraram oportunidades únicas para encontrar soluções expeditas e inovadoras nunca antes experimentadas.
No caso do Barreiro, muito se tem dito e escrito sobre o rumo que a cidade está a seguir, e no qual o dia de ontem terá certamente um lugar de destaque. Não estou completamente certo que este é o melhor rumo, ao mesmo tempo que se me levantam dúvidas em relação a algumas opções concretas. Mas no meio das dúvidas que tenho e que certamente serão comuns a muitos Barreirenses, tenho algumas certezas que me deixam dormir descansado. É que a Cidade do Barreiro, como muitas cidades por esse mundo fora, é um sistema vivo, e os seus habitantes têm um papel preponderante na construção do seu futuro. Estimular a sua participação activa e informada é uma responsabilidade comum a todas as instituições públicas, mas não deixa de ser um dever de todos os habitantes contribuírem activamente para a construção do futuro que se quer para a cidade onde vivem. Quanto maior for a diversidade de opiniões, mais ricas serão as soluções que se constroem

É função dos decisores fazerem isso mesmo - decidir. Sabemos sempre que essas decisões não darão resposta às expectativas de todos os habitantes da cidade. O que temos de exigir é que essas opções sejam honestas. Se as opções que agora se constroem, se mostrarem no futuro acertadas, a cidade continuará o seu caminho assente nessas opções. Se elas se mostrarem erradas e geradoras de mais problemas que soluções, com toda a certeza que encontraremos forma de transformar essas ameaças em oportunidades e faremos o nosso caminho, caminhando. O Barreiro não começou, nem acabou ontem!
Como enuncia o ICLEI – International Council for Local Environmental Iniciatives (Conselho Internacional para as Iniciativas Ambientais Locais): “É necessário criar comunidades sustentáveis, através de economias locais viáveis, justas, pacíficas e integradoras, eco-eficientes e assentes em cidades saudáveis.” É este o objectivo para uma nova cidade.

Nuno Banza

terça-feira, 7 de outubro de 2008

A moda das certificações – felizmente que algumas valem mesmo a pena!



Hoje em dia quase todos os rótulos têm um símbolo, ou vários, que nos chamam a atenção, por serem normalmente pequenos, terem uns números ou umas letras e alguns deles até mesmo estarem escritos noutra língua que não o português. Com a generalização do consumo, e o avanço da utilização da tecnologia na produção de bens, começou a sentir-se a necessidade de diferenciar os produtos bons dos outros menos bons, e terá sido eventualmente esse o ponto de viragem para o investimento na certificação de produtos. Com certeza se lembram da pasta de dentes que era recomendada pela Sociedade Portuguesa de Estomatologia e Medicina Dentária, ou da manteiga que era recomendada pela Fundação Portuguesa de Cardiologia, entre muitas outras. Na verdade, estamos a falar da associação de um nome ou de uma marca a um determinado produto, para que daqui se conclua que este é de confiança, de qualidade ou até melhor que qualquer dos outros seus concorrentes. Num processo mais ou menos semelhante, começaram a ser trazidos para o mercado, alguns princípios de normalização, usados há muito entre a comunidade científica para a troca de conhecimento e experiências. Esta normalização permite tornar comparáveis, vários processos e produtos, levados a cabo em situações, ou mesmo países diferentes. Na Europa, foram sendo desenvolvidos vários sistemas de normalização e criadas normas, vulgarmente conhecidas por EN, ou mesmo até começadas por ISO (International Organization for Standardization) Organização Internacional de Estandardização, que são hoje muito comuns e algumas mesmo muito conhecidas.

Muitos são hoje os sistemas criados para certificar tudo e mais alguma coisa. Há uns tempos escrevi aqui sobre a Certificação Energética de Edifícios, obrigatória para todos os edifícios a partir de Janeiro de 2009, e levada a cabo por via governamental através da ADENE – Agência nacional de energia. Mas além deste sistema, muitos outros são hoje usados pelos agentes económicos, para de alguma forma se tentarem distinguir uns dos outros. Muitas vezes para o cidadão comum, essa diferenciação é impossível, porque não só os sistemas e selos de qualidade e certificados são tantos e todos tão diferentes, que além de ser imperceptível, penso que começa a ser já hoje, infelizmente, pouco valorizado. Mas no meio de tantos sistemas destes, há alguns que se destacam pela sua qualidade, pela sua importância ao nível do que representam em termos de responsabilidade social das empresas, e mesmo até pela sua actualidade, e tentativa de liderar o mercado pelo lado da qualificação da oferta, integrando as melhores tecnologias disponíveis a vários níveis.

Na Europa, uma organização, BRE – Building Research Establishment (Organização de Investigação em Edifícios) lidera há vários anos um processo de Certificação que visa reduzir os Impactes dos projectos no ambiente, envolvendo já cerca de 100.000 edifícios certificados e tendo cerca de 700.000 em lista para serem auditados e certificados. (http://www.breeam.org/) Trata-se de um processo de certificação complexo e diversificado, que se aplica a edifícios de utilizações tão diferentes como habitação, escritórios, tribunais, unidades industriais, prisões, Centros Comerciais e Grandes Superfícies Comerciais, escolas, auditórios, entre outros. Através da análise de um largo conjunto de itens como a gestão, o uso e consumo de energia, a saúde e bem-estar, a geração de poluição nomeadamente do ar e água, os transportes, o uso do solo, as questões da ecologia, o balanço de materiais e análise do seu ciclo de vida e o consumo e uso eficiente da água, é atribuída uma classificação ponderada aos edifícios auditados. O resultado final é largamente difundido pelas pessoas para que possam saber o real impacte de cada um destes projectos, ao mesmo tempo que eles são enriquecedores do ponto de vista das cidades e vilas onde se desenvolvem, por serem uma efectiva mais-valia do ponto de vista ambiental.


Tendo sido considerado o melhor sistema mundial de classificação de Edifícios, é um desafio que se coloca indubitavelmente a uma região como a Margem sul do Tejo, onde tantas novas intenções de projectos se estão actualmente a prospectivar, e algumas mesmo até a concretizar. Espero que no meio das certificações tão badaladas e que os promotores muito gostam de referir, tendo muitas delas interesse apenas para os próprios, se comecem também a apontar baterias para exigir processos de certificação que defendem acima de tudo o interesse das cidades onde estes se vão inserir.

Nuno Banza