terça-feira, 29 de abril de 2008

Poupar energia em casa – vamos começar por não deitar dinheiro fora!



A Energia está na Ordem do Dia. Nunca como agora o preço do petróleo esteve tão alto. E não nos podemos esquecer que esta é uma das mais importantes fontes de energia, quer seja directamente para os transportes, quer de forma indirecta para a produção de electricidade. Tal dependência já deu origem a muitos escritos, com a Europa a estar empenhada como nunca esteve, numa estratégia conjunta para a Energia, que possa unir os 27 Estados membros.
Mas descendo um pouco à nossa realidade mais próxima, gostava de chamar a atenção para um aspecto do consumo de energia, que quase nunca é valorizado, mas que no seu conjunto representa uma parte importante do trabalho que temos de fazer enquanto consumidores, na procura de uma conduta mais eficiente. Trata-se do consumo respeitante aos chamados consumos em “stand-by” (estar ligado mas sem estar a funcionar) e “off-power” (estar desligado, mas mantendo a ligação da ficha à tomada). Os mais diversos tipos de electrodomésticos, desde os pequenos aos grandes, são uma presença comum nas nossas casas. Com maior ou menor utilização, seja em período de ponta, cheio ou vazio (horas em que os consumos são máximos, médios ou mínimos, respectivamente), muitos são os que possuem estados de “stand-by” e ainda uma maior parte são aqueles que se encontram sempre ligados às tomadas, e que mesmo sem estar a funcionar, continuam a consumir energia (“off-power”). Ora, uma primeira ideia que normalmente temos é a de que os consumos destes equipamentos são muito baixos, quase mesmo irrelevantes, não sendo por isso muito motivante fazer seja o que for quanto a isto. Pois então vejamos alguns dados que nos mostram que talvez valha a pena pensar duas vezes, não só pelo que eles representam ao nível de cada habitação, mas também pelo seu significado a nível nacional.
No que toca ao consumo doméstico, pode ser apontado, mesmo sendo conservativo na análise, que o consumo de um equipamento em “stand-by” ou “off-power” pode considerar-se em média da ordem dos 3W, variando muito numa habitação de tipologia média, o número de equipamentos de que estamos a falar. Mas concordarão que não será difícil ter duas televisões, um micro-ondas, um leitor de DVD ou vídeo, um despertador digital, um monitor de computador, uma consola de jogos, um forno com relógio, uma aparelhagem Hi-Fi com relógio, ou até um carregador de telemóvel que está sempre ligado à tomada, mesmo que não esteja a carregar nada. Mas vamos considerar que desta lista de cerca de 10 coisas, temos em nossas casas apenas 8, quaisquer que elas sejam. Para estes 8 equipamentos, temos então, 24Wh de consumo para “standby” e “off-power”dos equipamentos. Numa rápida operação de multiplicar, percebemos que por dia, eles consumirão cerca de 576Wh, e que num ano isso representará cerca de 210,24 kWh. Ao preço que é pago o kW, no consumo doméstico - 0.142 €/kW, isso representa pagar cerca de 30€/ano para consumir energia sem qualquer uso. Dispenso-me a dizer o que cada um pode fazer com esses 30 €, mas não posso deixar de lembrar que por exemplo as quotas dos Bombeiros Voluntários do Sul e Sueste no Barreiro são de 12 € por ano.

Ao nível nacional, esta questão assume contornos ainda mais interessantes se pensarmos que existiam em 2007 cerca de 4,7 milhões de consumidores domésticos. Aqui vamos considerar 3 factores – o custo deste consumo, a potência a instalar (produção de energia em barragens, centrais termoeléctricas ou outras) para fazer face a este consumo e as emissões de CO2 resultantes. Sobre o custo, multiplicando os tais 30 € por 4,7 milhões de consumidores, em cada ano que passa, verifica-se um gasto sem qualquer utilidade de cerca de 141 milhões de Euros. Quanto à potência de produção a instalar para fazer face a este consumo, e atendendo aos 24Wh de consumo em cada habitação, esta corresponde a cerca de 113MW para o total dos consumidores. Como referência para facilidade de percepção do leitor, poderemos apontar que a Central termoeléctrica da EDP no Barreiro, tem uma potência instalada de cerca de 56MW, e que a Barragem de Vilarinho das Furnas, no Gerês tem uma potência instalada de cerca de 125MW, ou que a Barragem de Castelo de Bode tem uma potência instalada de 159MW.

Se é verdade que a energia eléctrica produzida através de barragens é considerada limpa por praticamente não ter emissões de CO2, já o seu impacte ambiental é dos mais devastadores para os ecossistemas naturais, a par do seu altíssimo custo de construção. Da mesma forma, evitar a produção desta quantidade de energia através de termoeléctricas poderia representar a não emissão de 600 000 ton/CO2 para a atmosfera, em cada ano. Curiosamente, se considerarmos um valor de 20 €/ton de CO2 emitido, no mercado das emissões de CO2, esta emissão representa cerca de 12 milhões de Euros em licenças de emissão. Tudo somado, os 141 milhões de Euros de custo e mais estes 12 milhões de Euros em licenças, a juntar a tudo o resto que já se referiu, justifica plenamente na minha perspectiva uma alteração de comportamentos. Um país que é pobre, mesmo quando não se diz como tal ou se convence do contrário, não se pode dar ao luxo de deitar fora 153 milhões de Euros por ano.
Nuno Banza

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