terça-feira, 4 de novembro de 2008

A Cidade – de fonte de problemas a fonte de soluções!



Desde que o Homem se tornou sedentário, que organizou a vida em sociedade com base na construção de núcleos habitacionais, de dimensão variável em função de um conjunto de factores como as características geográficas, climáticas entre outras. Com o passar dos tempos, alguns desses pequenos núcleos foram crescendo, outros foram desaparecendo, mas muitos deram origem a grandes metrópoles, algumas de importância histórica, das quais fazem parte cidades como Roma, Atenas e muitas outras espalhadas pelo mundo. Desde sempre que a gestão das cidades foi polémica. Se imaginarmos os problemas que se colocavam ao nível das necessidades básicas numa cidade, como o abastecimento de água, a drenagem dos esgotos e recolha de resíduos, ou outras necessidades também muito importantes como o fornecimento de alimentos, ou até a convivência permanente com os animais quer os usados como apoio aos trabalhos do campo e nas deslocações (cavalos, burros e bois) bem como os animais criados para servirem de alimento (galinhas, porcos, ovelhas, cabras, etc) é fácil imaginar uma série de dificuldades práticas, que muitas vezes se traduziram em problemas sérios de saúde pública, como a peste, a cólera, entre muitos outros. Porém, a concentração de pessoas sempre permitiu resolver problemas de escala e encontrar soluções para um conjunto de dificuldades, que seriam impossíveis de resolver de outra forma.

Em regimes mais ou menos democráticos, a gestão das urbes é uma matéria que esteve sempre envolvida em polémica. Nos dias de hoje também a cidade continua a estar permanentemente envolvida em quezílias bairristas, partidaristas, de vizinhança e muitas vezes até clubistas, que vão alimentando a sua vivência. As cidades foram desde sempre uma forma útil que o homem encontrou para ter segurança, ter condições de vida mais favoráveis, criar condições de desenvolvimento social para fazer face às suas crescentes necessidades, o que faz com que a cidade possa ser vista como um organismo vivo e dinâmico. Com mais ou menos problemas, cada cidade faz o seu caminho, em função dos estímulos que lhe são fornecidos e vai encontrando formas de se desenvolver. É certo que muitas vezes a leitura que se faz desse desenvolvimento é ao mesmo tempo muito negativa e muito positiva, e permite até alimentar teses de catastrofismo, ou de ressurreição, muito convenientes em função dos interlocutores. Porém, a experiência mostra que as cidades são acima de tudo inteligentes na forma como resolvem os seus problemas. Grandes conflitos de interesses entre os actores das cidades geraram oportunidades únicas para encontrar soluções expeditas e inovadoras nunca antes experimentadas.
No caso do Barreiro, muito se tem dito e escrito sobre o rumo que a cidade está a seguir, e no qual o dia de ontem terá certamente um lugar de destaque. Não estou completamente certo que este é o melhor rumo, ao mesmo tempo que se me levantam dúvidas em relação a algumas opções concretas. Mas no meio das dúvidas que tenho e que certamente serão comuns a muitos Barreirenses, tenho algumas certezas que me deixam dormir descansado. É que a Cidade do Barreiro, como muitas cidades por esse mundo fora, é um sistema vivo, e os seus habitantes têm um papel preponderante na construção do seu futuro. Estimular a sua participação activa e informada é uma responsabilidade comum a todas as instituições públicas, mas não deixa de ser um dever de todos os habitantes contribuírem activamente para a construção do futuro que se quer para a cidade onde vivem. Quanto maior for a diversidade de opiniões, mais ricas serão as soluções que se constroem

É função dos decisores fazerem isso mesmo - decidir. Sabemos sempre que essas decisões não darão resposta às expectativas de todos os habitantes da cidade. O que temos de exigir é que essas opções sejam honestas. Se as opções que agora se constroem, se mostrarem no futuro acertadas, a cidade continuará o seu caminho assente nessas opções. Se elas se mostrarem erradas e geradoras de mais problemas que soluções, com toda a certeza que encontraremos forma de transformar essas ameaças em oportunidades e faremos o nosso caminho, caminhando. O Barreiro não começou, nem acabou ontem!
Como enuncia o ICLEI – International Council for Local Environmental Iniciatives (Conselho Internacional para as Iniciativas Ambientais Locais): “É necessário criar comunidades sustentáveis, através de economias locais viáveis, justas, pacíficas e integradoras, eco-eficientes e assentes em cidades saudáveis.” É este o objectivo para uma nova cidade.

Nuno Banza